Adolescentes à beira do abismo

De acordo com um estudo da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, efetuado no ano letivo 2017/2018, 1 em cada 4 alunos do 7º ao 12º ano apresenta sintomas de depressão. O sexo feminino normalmente é o mais mais afetado, pois, segundo uma investigação recente da Faculdade de Medicina do Porto, a prevalência de sintomas depressivos nas raparigas aos 13 anos é duas vezes mais elevada do que entre os rapazes da mesma idade.
A depressão na adolescência está normalmente associada a dificuldades nas relações interpessoais, a comportamentos agressivos, a quebras no desempenho académico e ao aumento do consumo de álcool e drogas, representando um problema grave, que provoca elevada mortalidade, geralmente por suicídio.

Depressão e automutilação

Desde cedo, Ana Micaela conheceu o mundo tenebroso da depressão e da automutilação, tendo tudo começado aos 12 anos com a morte da avó paterna. “Ela era uma das pessoas que evitava que eu me apercebesse dos problemas que existiam na minha família. Por isso, quando ela faleceu, comecei a ver com maus olhos as situações familiares. Como os meus pais eram separados, andava sempre de uma casa para a outra. Então, envolvi-me com estilos de vida relacionados com o satanismo, que me levaram a ter uma mente deturpada e foi aí que comecei com a automutilação.
Passei a refugiar-me nas amizades e nos relacionamentos. Como a minha mãe ia comigo às raves, autorizou-me a fumar e, aos 15 anos, comecei a fumar drogas e a beber. Passei a ver naquele estilo de vida um refúgio porque cada vez que ia a uma festa fugia da realidade em que vivia. Mas, à medida que o tempo passava, comecei a falhar na escola e a ter ataques de ansiedade cada vez mais graves. Cheguei a sair do meio da aula aos berros que queria morrer por causa de problemas com um namorado ou uma colega. Tudo o que me afetava eu sentia de uma maneira tão intensa que queria logo magoar-me e morrer.

Aos 16 anos, a minha irmã mais nova faleceu e a dor dentro de mim só aumentou ainda mais. Aos 18 anos, comecei a consumir drogas mais fortes e a ter um estilo de vida mais pesado. Tive relações em que cheguei a bater em namorados, sendo agressiva a falar e chorando intensamente. Andei em várias psicólogas na escola, mas ninguém me pôde ajudar e a depressão tornou-me numa pessoa que eu não reconhecia!
Fui parar várias vezes ao hospital de urgência por causa de discussões agressivas no meio da rua com os namorados, estava a ser seguida na psiquiatria e a tomar medicamentos por causa dos ataques. Mas ninguém tinha a cura para a minha vontade de morrer!
Quando, finalmente, conheci a fé no Centro de Ajuda, vi aí a minha última oportunidade. Passado um mês, fiquei completamente livre da dor da depressão, dos vícios e da carência que tinha. Hoje, a força que Deus me dá mantém-me firme diante das dificuldades e a paz que recebi, mesmo quando estou a passar por situações complicadas, mantém-se.”

Ana Micaela Fernandes